Foi vergonhosa a matéria exibida no Jornal Nacional desta terça-feira (03), no qual ficou bem claro que segundo uma pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas a culpa da educação no Brasil não é dos que governam esse país, mas é culpa e somente culpa dos professores.
Trágico e cômico, inicia-se a matéria mostrando a vida do mestre Pitágoras, filósofo, matemático, biólogo. Bem vocês já devem ter lido quem foi Pitágoras. Aí uma repórter, que não seria repórter se não houvesse professor, com um sorriso de ponta a ponta da boca, faz o relato da vida de um outro Pitágoras. Mas esse um pobre coitado professor da rede pública de ensino que não foi outra coisa na vida além de ser professor, por que segundo uma pesquisadora ele foi no passado um aluno que ficou abaixo da média e percebeu que a licenciatura seria melhor e mais fácil de ter um meio de sobreviver, e nisso sacou de seu grande fundo de pesquisa e conhecimento de sua salinha com ar condicionado, internet, seu salário acima de 6 dígitos a justificativa que a educação no Brasil é caótica por que os professores que hoje lecionam foram alunos medíocres, ou seja, longe de ser culpa de anos de ditadura militar, mas longe ainda ser culpa da colonização que tivemos, longe de governos tacanhos que durante anos sucatearam a educação. Como pode, e a culpa é de quem? A culpa é do professor que não leciona por amor, que não se dedica, que não é capaz de transmitir conhecimento.
Nesse contexto vamos buscar as alternativas educacionais para o povo brasileiro: educação para jovens e adultos. Para “baratear” os custos, os estados e as prefeituras contratam realmente pessoas que não tem qualificação. Porque fazer concurso público e contratar pessoas qualificadas é muito caro. Continuando, nas escolas de ensino fundamental os professores tem que fazer o papel de pai, mãe, psicólogo e o que mais for necessário, pois a maioria dessa “clientela” que frequenta as escolas públicas os pais tem que sair de madrugada para ganhar o sustento e em muitos casos são filhos de famílias desestruturadas pela falta de oportunidade.
Entende-se aqui como falta de EDUCAÇÃO PUBLICA E DE QUALIDADE, falta de moradia, falta de viver a vida com dignidade. Mas com toda a certeza os “pesquisadores” que fizeram essa “pesquisa” não ministram aula nas comunidades pobres, nos lugares mais distantes do Brasil. Talvez nunca tenha ouvido falar de Sobralzinho no Ceará, ou em Juphubinha em Moju, ou Itacuruça em Abaetetuba, entre outros lugares que não sejam o eixo Rio/SP.
Quão mesquinho é o desserviço da Rede Globo em sujar a nossa classe de professores. Percebo que nada mais é que uma justificativa para o não pagamento do piso nacional. Se era isso era só falar e não sujar o que de mais belo tem nessa profissão que é de forma uma sociedade justa e pensante.
Sou professora e amo minha profissão, mas não sou tola nem idiota de ver e ouvir isso e ficar calada e aceitar como cordeiro. A educação tem muitas falhas, mas o gerenciamento não está nas mãos do educador que na ponta sofre com a comunidade escolar e sonha com dias melhores.
* Ellen Marvão é professora de Sociologia da Rede Estadual de ensino do Pará, formada pela Universidade da Amazônica e Coordenadora da Subsede do Sintepp/Moju.