Porque nem toda mulher nasceu para ser mãe, mas todas devem ser livres. Por Ellen Marvão e Geisi Dias

Por Ellen Marvão* e Geisi Dias**

Quando eu desejei parir?!

Quando eu desejei parir, ter uma cria, colocar no mundo a continuidade do meu DNA o mundo se abriu em graça. Família, amigos, vizinhos, até o seu Manoel da quitanda e o gerente do meu banco celebraram. Mas sempre vinha a pergunta: quem vai ser o Pai? Já tem um Pai? Casou e nem avisou?! E por ai seguia. Eu ainda meio que tímida respondia: Vou fazer uma inseminação, estou à procura de um doador bacana, que goste de bichos, curta cinema, seja prendado em afazeres domésticos, intelectual e que deseje ser cidadão do mundo.

Fechava minha boca e logo me via envolvida em um turbilhão de críticas. Como assim um doador? Tanto “homem” na praça e você vai querer engravidar de um tubo de ensaio? Mas ai está o chamado “x” da questão: “o tanto homem na praça”. Será que esse homem tem a clareza de ter um filho e não simplesmente fazer um filho? Por que a sociedade ainda tem o pensamento de que a mulher só pode procriar se tiver um “homem”? E olha que já estamos em 2015. O “homem” já foi a lua, temos uma sonda em Marte, já fizemos um clone, e nós mulheres ainda estamos colocadas na idade média.

Só podemos ter filhos se tivemos um homem? Não podemos abortar por que o direito do corpo feminino ainda é considerado um direito do homem, do filho, da sociedade, da religião, do seu Manoel da quitanda, mas nunca um direito próprio genuíno e meu de ter direito sobre o meu corpo!

Queimadas na inquisição, perseguidas, violentadas nas guerras, excluídas nos direitos sociais e humanitários. As primeiras a morrerem de fome, por que doamos o que temos para os filhos e maridos, esquecidas pelos parceiros nos presídios, escandalizadas por gostarmos de outra mulher, diluídas em um mundo de “homens”.

Eu resolvi engravidar e vou parir um homem que entenda que homem e mulher são construções sociais. Afinal, você como todo animal nasce simplesmente macho ou fêmea, o que vem depois é a consciência que você cria.

A busca pela igualdade é uma tarefa incansável. Para a mulher, esta que luta para romper com o patriarcado, com os ditos da moral e dos bons costumes, a revolução é urgente.

Não serão os pais, os irmãos, os primos, o vizinho, o seu Manoel da quitanda ou o gerente do banco que decidirão as regras para a procriação. O corpo da mulher é livre, e ela vai exercer essa liberdade em sua mais pura essência.

Enquanto os magnatas da política vociferam que nem por cima de seus cadáveres o aborto será legalizado, a cada dois dias uma mulher (pobre) morre ao tentar fazer um aborto clandestino.

No país dos proibitismos que preservam a moralidade, as principais vítimas são as negras, as camponesas, as moças da periferia. Aos abastados tudo é permitido, inclusive manter vistas grossas a estas mortes.

Neste 8 de março que se avizinha, mais uma vez as mulheres são chamadas às ruas para confirmar a força de serem as senhoras de sua própria história. Pois quando uma mulher avança, nenhum um retrocede!

* Ellen Marvão é professora de Sociologia da Rede Estadual de ensino do Pará, formada pela Universidade da Amazônica e Coordenadora da Subsede do Sintepp/Moju.

** Geisi Dias é jornalista, formada pela Faculdade de Estudos Avançados do Pará e compõe a equipe de Comunicação do Sintepp Estadual.

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