A subjetividade do debate de gênero no ENEM 2015

*Por Sebastião Vilhena

O tema da redação do Enem sobre persistência da violência contra a mulher no Brasil não é apenas um tema feminista, é mais. É um tema político de envergadura colossal. Debatê-lo é necessário para começarmos a superá-lo.

A falsa polêmica que hoje vem sendo debatida a exaustão nas redes sociais, onde de um lado estariam os reacionários machistas, homofóbicos, racistas e xenófobos (que realmente o são e que seriam a direita brasileira estilo Bolsonaro e PSDB) e de outro estariam os que têm visão crítica, progressivos, democráticos (e que não o são personificados no governo Dilma, no PT), serve apenas para escamotear que ambos os campos são tão quanto responsáveis pela cruel realidade da mulher brasileira, em especial da mulher trabalhadora.

Os próprios dados oferecidos aos candidatos demonstram isso: entre os anos 1980 e 2010, 92 mil mulheres foram assassinadas no país, entre esses anos o Brasil foi governado pelos militares na ditadura, pelo PSDB e pelo PT e os índices não param de aumentar. Ai os petistas berram: fizemos a lei Maria da Penha! Mas os dados na prova são chocantes e elucidativos: dos 332.216 processos registrados entre 2006 e 2011 somente 9.715 prisões. Faz o cálculo dessa proporção? Qual a porcentagem entre os casos relatados, os punidos e as mulheres mortas a cada segundo no Brasil? Em 2010 somente 2.777 homens foram presos pela lei. Quantas mulheres mortas em 2010?

Como podemos ver essa falsa polêmica entre reacionários e “progressistas governamentais” só serve para desviar o foco do cerne do problema: o Brasil tem uma política insuficiente e ineficiente para as demandas de nossas mulheres, isso porque nem mesmo o governo da primeira mulher presidenta foi devotado aos problemas dos trabalhadores, mas sim voltado para os grandes banqueiros e empresários. Sendo assim, “tratamos da mulher numa prova e somos progressistas”, mas na vida real corto direitos sociais como o direito a pensão, aumento a inflação aumentando a carestia na mesas das mulheres, não garanto o emprego pleno e deixo serem elas, gays e negros os primeiros a perderem seus empregos dentro dessa crise que passamos, não legalizo o aborto na rede de saúde pública junto com os reacionários, mas mesmo assim, “sou progressista”!?. Não para mim!

*Sebastião Vilhena – professor de História da SEMEC e Coordenador Distrital do Sintepp.

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