20 de novembro – Dia da Consciência Negra

Sintepp palestra sobre 20 de novembro em atividade do CAS/Fasepa – Icoaraci

Na manhã de ontem (19) o Sintepp, atendendo a solicitação da Unidade de Adolescentes em Semiliberdade – CAS/Fasepa de Icoaraci, contribuiu com complementação do evento da Unidade sobre o 20 de novembro, com palestra sobre o “Dia de Zumbi e da Consciência Negra”.

O Coordenador Estadual do Sintepp, professor Mauro Borges, discorreu sobre a importância dos movimentos negros no combate a desigualdade racial, a contextualização histórica da luta contra a escravidão e do movimento abolicionista, a xenofobia, a violência, e provocou a reflexão sobre a organização e a resistência do povo negro para avançar em políticas afirmativas da diversidade social e racial de nosso país.

Leia abaixo os principais tópicos da palestra:

20 de novembro, dia que se comemora a luta pela igualdade racial e o combate a xenofobia

Por Mauro Borges*

Passados 127 anos da “ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO BRASIL”, os desafios para que a igualdade racial seja para valer parecem infindáveis ante aos avanços obtidos através das políticas públicas afirmativas e também as ações da sociedade. O Dia da Consciência Negra não foi uma data construída de forma institucionalizada, mas sim uma data que nasceu do debate dos movimentos negros para homenagear não apenas ZUMBI como herói nacional, mas todos os que de certa forma contribuíram para combater a desigualdade racial, como é o caso de João Cândido na Revolta da Chibata.

Não podemos aqui abrir um debate sobre o dia da CONSCIÊNCIA NEGRA, ignorando o dia 13 de maio como se a data fosse irrelevante no contexto histórico do Brasil, ignorar o dia 13 seria no mínimo ignorar o movimento abolicionista que muito contribuiu para a organizar o combate à escravatura e o comércio de escravos que se desenvolveu durante o Iluminismo do século XVIII e tornou-se uma das formas mais representativas de ativismo político do século XIX.

O Brasil foi o último país a abolir os escravos, essa abolição aconteceu muito em função do movimento abolicionista que tomou corpo na América, tendo o Haiti como referência nessa luta, onde os escravos de forma organizada passaram a governar o país, transformando o Haiti na primeira República Negra fora da África. Esse movimento conhecido como HAITISMO, foi fundamental para que o Brasil acabasse com a escravatura em 1888.

No Brasil é onde mais se mata no mundo, são 22 mortes para cada 100 mil habitantes. Se considerarmos os jovens negros de 18 a 24 anos. O número sobe para 150 casos para cada 100 mil habitantes, esse número é 15 vezes maior que nos EUA, e 5 vezes maior que na Colômbia. Segundo a UNESCO, dos 550 mil mortos com armas de fogo no Brasil de 1979 a 2003, 44,1% são jovens de 15 a 24 anos e desse grupo 74,6% são negros.

Também não é aceitável dizer que o Brasil é um país justo racialmente, assim como não podemos afirmar que o país que possui a 9ª maior economia do planeta distribui a sua riqueza de forma igualitária. Prova disso são os investimentos realizados no Brasil que visam única e exclusivamente o avanço do capital em detrimento da precarização dos serviços essenciais para a população como: Educação, Saúde, Saneamento, Moradia e geração de emprego e renda. Outra contradição no Brasil é o fato de que 98% da população reconhece que existe racismo no país, porém 95% da mesma população não se reconhece como racista.

Em nosso país tivemos um momento onde a população negra passou a denunciar a existência do racismo, do preconceito, a forma como o racismo se manifestava e também as suas consequências para a sociedade, em especial para a população negra.

O nosso compromisso não é só de debater o racismo ou a desigualdade racial e as mazelas brasileiras no dia da Consciência Negra, precisamos tornar esse debate diário, até porque nenhum avanço nas políticas públicas relacionadas ao combate ao racismo e a desigualdade racial veio por iniciativa própria do governo, seja ele qual for, todas foram devido a organização do movimento nos seus mais diferentes formatos, seja nos Quilombos, no Abolicionismo e nos tempos mais atuais através da música, dança, teatro e etc, demandando políticas públicas afirmativas.

Será que vamos nos unir no carnaval, no futebol do final de semana, copa do mundo e tragédias como a que aconteceu em Mariana (MG)? Quantas chacinas da Candelária ainda terão que acontecer? Será que algum dia a escola vai valorizar a diferença racial? Será que Negros, Índios, Orientais e Brancos serão tratados em condição de igualdade? Será que a desigualdade racial vai deixar de ser um problema só para os negros? Ou iremos sentar para discutir coisas relevantes e tomar uma atitude? E você? O que pensa disso tudo?

*Mauro Borges é professor de Educação Física na rede estadual de ensino do Pará e no município de Belém, graduado pela Universidade Castelo Branco (UCB/RJ).

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Foto: Alberto Passos/ Fasepa

Sintepp marca presença na Marcha das Mulheres Negras

O Sintepp esteve presente na 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras que ocorreu no último dia 18 de novembro em Brasília/DF. A Coordenadora da Secretaria de Relação de Gênero e Sexualidade, Mônica Brito, da Subsede de Altamira e demais profissionais da educação da Regional Xingu representaram nossa entidade.

Segundo a organização do evento, cerca de 25 mil pessoas estiveram presentes. E para nosso Sindicato é fundamental a articulação das mulheres negras em nosso país. “Saímos renovadas e com a motivação de que é possível a realização de muitas outras Marchas de Mulheres e Mulheres Negras objetivando a autovisibilidade e acessibilidade. Queremos de ser ouvidas e enxergadas como sujeitas e protagonistas de nossa história, seja no cotidiano da vida social do mundo de trabalho e nos territórios que enfrentamos para sobreviver dignamente. O que queremos ainda é viver bem e felizes”, comentou Mônica Brito.

A Marcha de Mulheres Negras deixou como marco político social a próxima Marcha Mundial de mulheres e mulheres negras e lançou a Carta das Mulheres Negras 2015. Clique aqui para ter acesso ao conteúdo: http://www.geledes.org.br/carta-das-mulheres-negras-2015/#gs._EfKc7A

Sobre ser mulher e ser mulher negra na Transamazônica e Xingu, as camaradas nos enviaram a seguinte mensagem: “Nós mulheres da Transamazônica e Xingu levamos entre nós a essência de ser guerreiras e a determinação de estarmos além de nossos territórios e tempo na luta contra o machismo, o racismo humano e ambiental, bem como o combate à todos os tipos e formas de violência contra a mulher e a mulher negra.

Lamentavelmente são as mulheres negras as mais sacrificadas por suas condições de falta de acesso à educação, saúde, emprego e renda, moradia digna e etc, mesmo com o pertencimento de uma região do país que conta com grandes riquezas naturais, mas socialmente com população empobrecida em sua maioria, segundo dados oficiais de pesquisas divulgadas.

Somos nós, as mulheres negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, estrativistas, coletoras de essências de óleos naturais, pescadoras, das águas, das florestas, dos rios, travessões, vacinais, estradas e BR’s que protagonizamos o fazer de todos os dias. Contudo, não somos visivelmente reconhecidas como humanas e construtoras das políticas públicas.

Queremos educação, saúde, água, energia, moradias decentes, transportes públicos de qualidade às moradoras das periferias das cidades e do campo e políticas de suprimentos agrícolas e agricultura sustentável familiar.

Nessa intuição de emoção, determinação das águas do Xingu e da Amazônia situada na região Norte do Pará, estamos armadas para continuar na luta contra a opressão, a violência, o racismo e demais mazelas do sistema opressor.”

Não nos calarão!

Mulheres Negras do Brasil rumo a 2ª Marcha Mundial pela dignidade social e igualdade humana.


Leia mais:
http://www.cnte.org.br/index.php/comunicacao/noticias/15749-educadoras-reforcam-marcha-das-mulheres-negras.html

20 de novembro – Dia da Consciência Negra

Neste dia 20 de novembro a população brasileira comemora o dia da consciência negra. A data, indicada pelo movimento negro como símbolo de resistência, marca na história o dia da morte em luta de um dos principais heróis nacionais, Zumbi dos Palmares, líder do maior movimento contra a escravidão em nosso país.

Os quilombos, estados independentes que se instrumentalizaram como um forte amparo aos negros (as) que conseguiam escapar da atroz escravidão, foram uma das estratégias galgadas na luta pela liberdade que passou a existir desde a chegada dos (as) africanos (as) ainda no período do Brasil Colônia. Tendo se mantido o tráfico de escravos (as) por 350 anos.

Ainda que no ano de 1888 nosso país tenha abolido a escravidão com Lei Áurea, a condição de classe inferior prevaleceu ao (a) negro (a), uma vez que à aristocracia não interessava dividir com a população negra iguais condições econômicas e sociais. O que notoriamente comprovamos ao compararmos o tratamento dispensado aos (as) imigrantes europeus, que dispuseram de acesso a educação, crédito, terras e autopromoção, enquanto os (as) negros (as) receberam a liberdade, tardiamente (cabe lembrar que o Brasil foi o último país do chamado novo mundo a abolir a escravidão), contudo sem acesso algum aos direitos sociais.

Diante da abjeta intenção da nobreza de manter o modelo cultural europeu, que assassinou brutalmente, marginalizou, discriminou e excluiu o povo negro brasileiro, a reação decorreu através da religião, da linguagem, das danças e, sobretudo pelo enfrentamento ao racismo e ao preconceito social através de grupos culturais, artísticos e políticos que foram e são incansáveis na luta pela superação da desigualdade e pela garantia da justiça racial e social no país que tem a maior população negra fora do continente africano.

As articulações do movimento negro propiciaram avanços significativos frente aos governos. Para além dos atos de denúncia aos crimes de racismo e injúria racial, a frequente proposição de políticas afirmativas tem garantido a instituição de leis, a aplicação de medidas educacionais e até mesmo ações reparatórias que poderão, em longo prazo, reverter a disparidade racial e social de nosso país. No entanto, diante da acuidade do tema ainda há muito que se avançar.

Na atualidade, a crescente onda de violência e a brutalidade das mortes da população negra, de baixa renda e da periferia são aterradoras, se impondo como um dos desafios a serem imediatamente superadas.

Segundo o Mapa da Violência, de Júlio Waiselfisz, publicado este ano, e que analisou dados da mortalidade por arma de fogo (AF) em 90 países do mundo entre os anos 2008 e 2012, o Brasil figurou em 11º lugar, tendo nada mais que 40.077 homicídios. A pesquisa aponta que só no ano de 2012, dos 37.444 homicídios da população total, 27.683 foram de negros (as). Na análise das Unidades Federadas, no período de 2002 a 2012, o Pará mais que triplicou o número de mortes por AF, ocupando a 1ª posição da Região Norte, e a 8ª no país.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou em 2013 informações que comprovaram uma preocupante estagnação nas políticas afirmativas demandas pelo movimento negro.  Conforme o instituto, em relação à educação, por exemplo, apenas 8,9% dos (as) negros (as) estavam no ensino superior; 61% das mulheres assassinadas pelos parceiros, que assinala para o machismo e sexismo, eram negras; e ainda chegavam a 60,9% do número de mulheres negras ocupando vagas de empregadas domésticas no mercado de trabalho.

Mesmo com o quadro assolador da violência e a negação de direitos, vale a pena alçar horizontes de sonhos construtivos, e lembrar, portanto, o marco histórico que foi para o movimento negro a conquista em 10.11.2011 da lei nº 12.519, que oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Este dia merece ser comemorado e lembrado, mas sem que se perca de vista o viés da luta e da resistência. Sobretudo para nós paraenses, que pela vertente escravista e o aberto favorecimento ao coronelismo enraizado em nossos governantes não temos nenhum município que considere a data como feriado.

Porém, é com o orgulho negro de quem compõe esta história de resistência que Coordenação Estadual do Sintepp, além de convidar a categoria e a sociedade à reflexão, parabeniza aos (as) trabalhadoras (as) em educação do Estado do Pará e municípios que lutam pelo despertar da consciência de nossos (as) estudantes. Por isso convocamos nossa categoria a lutar pela aplicabilidade da Lei nº 10.639 nas redes estadual e municipais, bem como reivindicar sua imediata implementação. Uma vez que orgulhosamente orientamos nossos (as) alunos (as) conforme as diretrizes de ensino que resgatam e respeitam a história e cultura africana e afro brasileira, e crermos que a garantia desta lei vertiginosamente contribuirá para o tombamento do racismo institucionalizado e na consolidação da igualdade racial e social.

Viva ao 20 de novembro!

Viva ao povo negro que luta e resiste!

Zumbi vive!

Consciência negra. AG

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